Tip of the tongue ?

Quantas vezes nos deparamos com a necessidade de falar determinada palavra que não “lembramos” e temos aquela sensação de que ela está na ponta da língua? Algumas vezes, sabemos até os fonemas iniciais ou as primeiras letras; geralmente, nos vêm à mente outras palavras (que às vezes chegamos a produzir em voz alta) e até mesmo sensações vagas, mas certamente relacionadas de alguma forma à palavra desejada. Recorremos à lembrança de rostos, situações, estórias, na tentativa de trazê-la à tona. Temos a percepção de saber a palavra, de “saber que se sabe”, mas não conseguimos evocá-la no momento adequado. Apesar de parecer algo muito intuitivo, este fenômeno tem sido alvo de pesquisas no campo da neuropsicologia e da neurolinguística, pois sua descrição e análise podem ajudar a compreender aspectos relevantes do funcionamento semântico-lexical.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Quipu...

E já que estamos conversando sobre a memória e seu desenvolvimento, você sabe o que é um Quipu ? 



Através de estudos evolucionistas, dos símios aos sapiens,  estudiosos como Luria e Vigotsky afirmam que a base da nossa memória, encontrada no homem primitivo, é eidética. Na ausência de mecanismos lógicos e abstratos mais sofisticados, pode-se dizer que a base da experiência do homem primitivo é apoiada na memória, de caráter imediato e eminentemente emocional. 
No curso do aprimoramento da memória do homem, a utilização de instrumentos diversos permitiu a modificação e o desenvolvimento de diferentes habilidades, o que foi essencial para que o homem se libertasse do imediatismo da memória.
Das famosas enciclopédias à infinitude da nossa atual memória virtual, um brilhante instrumento utilizado pelo homem, que interrelaciona habilidades mnemônicas e matemáticas, foi o Quipu. De acordo com Luria e Vygotsky (1996), os quipus (que significam cordões com nós, em linguagem peruana)  "são recursos auxiliares de memória convencionais, muito difundidos por povos primitivos, que exigia um conhecimento preciso por parte daquele que amarrava esses nós" (pág.117). 
Utilizados por diferentes povos ao longo da história, esses nós tinham diferentes funções como marcadores mnemônicos, que permitiam até codificação e decodificação de calculos matemáticos. Desta forma os quipus permitiam que mensagens complexas fosse enviadas (juntamente com seu interprete) a longínquas regiões.


Tudo indica que estes instrumentos sejam dos mais antigos utilizados, uma grande demonstração dos progressos do homem para o controle da sua memória, um precursor da escrita. De acordo com os autores citados, a passagem do "desenvolvimento natural da memória para o desenvolvimento da escrita, do eidetismo para o uso de sistemas externos de signos, da atividade mnemônica para a atividade mnemotécnica, constitui um ponto crucial ou uma mudança súbita que determinou todo o curso posterior do desenvolvimento cultural da memoria humana" (pág.117). 
Para finalizar, mais especificamente sobre as palavras que ficam na ponta da língua, me pergunto quantas vezes no decorrer da história um sujeito não parou com um nó desses na mão, com a sensação que sabia o que ele queria dizer, mas a palavra não aparecia : ) 

Para saber mais sobre o tema, veja o vídeo:


Obs... O livro citado aqui é o "Estudos sobre a história do comportamento - Símios, homem primitivo e criança", escrito por Luria, A.R e Vigotsky,L.S. - A edição que tenho aqui é de 1996, Porto Alegre.